Meu pai, o menos feliz
dos homens que conheci. O seu rosto
retinha a palidez
dos que trabalham debaixo do chão:
os anos perdidos em Brooklyn
ouvindo o metropolitano
sacudir a terra.
Mas um irlandês tradicional
que (libertado das grades
da estação de Clark Street)
bebia whiskey puro até
alcançar o único elemento
em que ainda se sentia
à vontade: o espesso olvido.
E mesmo assim recompunha-se,
quase todas a manhãs,
para marchar rua abaixo
distribuindo sorrisos
em todas as direcções
do decente bairro de brancos
apascentado pela igreja de Santa Teresa.
Quando regressou
dávamos passeios juntos
pelos campos de Garvaghey
olhando os espinheiros nas moitas
de verão, como se ele
nunca tivesse partido,
uma curva da estrada
que abrigava ainda
malmequeres. Mas nós
não sorríamos na
partilhada cumplicidade
de um sonho, pois quando,
exausto, Ulisses volta a casa
Telémaco deve partir.
Muitas vezes, ao descer
ao metro ou às profundas,
vejo a sua cabeça calva, atrás
das grades da bilheteira,
a marca de um antigo acidente
de automóvel lateja-lhe
na fronte de fantasma.
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