fiquei doente com a inundação de sono aquoso, já na madrugada
o sono saía de mim como água da
garganta do leão no Parc de la Ciutadella em Barcelona
sem tocar nas presas e nas pesadas asas, em pétalas, da escultura
a manhã falava sobre o peso das penas de neve
as mulheres cacarejavam sobre o fim do mundo
cheirava a frango, esta manhã, esta manhã, esta manhã –
coaxava enquanto sonhava, pedia um guarda-costas do tempo, perseguida
até aos cumes do meio-dia, repetindo-me, com o sol
descasquei branqueando duas maças cor de sangue, a sua forma
rasgava o ar, e dele caíam entranhas evaporadas da encosta
o sol branco olhava directamente sem piscar, realçava
a língua vermelha das nuvens, o dia de sono era
albino, eu era os seus olhos vermelhos, morrinhava,
apontava para cima com o dedo lambido pelo céu, com ele nós
sentimos as direcções do ventoso pensamento, a cara bebia
o sangue negro das distâncias, transbordava de norte como
carícias interiores de viagens, como ardentes desejos de sedentários,
unidos por trituração, uma sem-infância negra com uma sem infância-branca
as tardes grandes em passam borbulhando com pigmentos claros de tinta de água
respirava profundamente, inspirando e
expirando anjos dos pulmões,
as ampulhetas partiam-se
com os gritos das mulheres paridas, o Fevereiro despontava
a Primavera, eu escrevia branco no branco, que o meu berço
é o fundo e de vergonha coravam na vertente
as coisas do meu sono, que esta manhã, esta manhã, esta manhã,
é muito a manhã passada
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